Museu da Ci�ncia - Universidade de Coimbra

Vanessa-dos-cardos e a importância das Coleções de História Natural

A Bela-dama, também conhecida como Vanessa-dos-cardos, é uma borboleta diurna com o nome científico Vanessa cardui (Linnaeus, 1758). Esta borboleta pode atingir uma envergadura de até 70 mm. A face superior das suas asas de tons alaranjados com marcas pretas e pintas brancas, enquanto a face inferior apresenta cores variadas mais claras e possui quatro ocelos escuros submarginais. Esta borboleta possui a maior distribuição mundial, sendo encontrada em todos os continentes, exceto na Antártida, América do Sul e Austrália, onde é substituída pela espécie irmã, Vanessa kershawi (McCoy, 1868).

A Vanessa-dos-cardos protagoniza uma das mais incríveis migrações feitas por uma borboleta. Na Primavera, migra de África para o Norte da Europa, podendo ocasionalmente chegar até à Islândia. No outono, quando o alimento começa a escassear, faz o percurso inverso, alcançando o deserto do Saara ou até locais mais distantes. Este conhecimento é recente e resulta de um projeto global de ciência-cidadã liderado pelo Instituto de Biologia Evolutiva (IBE), CSIC-UPF em Barcelona, “The Worldwide Painted Lady Migration” (http://www.butterflymigration.org/), e ainda há muito por descobrir.

Em Portugal, a Vanessa-dos-cardos é bastante comum, ocorrendo em todo o território, incluindo nos arquipélagos dos Açores e da Madeira. Voa durante todo o ano. É uma espécie generalista e altamente oportunista, com uma ecologia que lhe permite realizar grandes movimentos dispersivos em busca das condições ideais para se multiplicar, podendo ocorrer numa grande variedade de habitats, preferencialmente em locais abertos, floridos e soalheiros, até aos 2000 m de altitude. Poliniza uma grande variedade de plantas compostas, especialmente diversas espécies de cardo, onde deposita os ovos, que são verdes e estriados verticalmente. Após a eclosão, a lagarta, bastante espinhosa e variando do preto ao castanho com uma faixa amarelada nos flancos, alimenta-se de várias plantas, mas, preferencialmente de cardos, origem do seu nome “cardui” ou “dos cardos”. Finalmente, a crisálida ou pupa é maioritariamente dourada, de onde emerge o adulto após a metamorfose, completando assim o seu ciclo de vida.

Esta caixa de borboletas, que pode ser observada na exposição “Gabinete de Curiosidades, uma Interpretação”, contém 40 espécimes, com os números de inventário de ZOO.0034523 a ZOO.0034562. Estes exemplares foram recolhidos durante Explorações Zoológicas do Museu entre abril e setembro de 1928 a 1962, de Norte a Sul de Portugal: Gerês, Bragança, passando pela Serra da Estrela, Oliveira do Hospital, Arganil, Góis, Rio de Vide, Miranda do Corvo, Coimbra, Serra da Boa Viagem, Vale Covo (Bombarral) e Algarve. Entre eles, há ainda um exemplar recolhido em Uclés (Espanha).

Com apenas uma caixa de borboletas, podemos conhecer a distribuição geográfica desta espécie no nosso país, a época do ano em que se pode observar mais adultos em voo (abril-setembro) e a diversidade dos padrões coloridos desta espécie. Este inventário está a decorrer no âmbito do subprojecto do TETTRIs, o ARCADE “Alinhar Coleções de Referência com o Desenvolvimento Taxonómico para a Conservação dos Polinizadores em Portugal” e conta com a colaboração do especialista, Eduardo Marabuto, para confirmar e/ou retificar a identificação das espécies de borboletas das nossas coleções, a quem agradecemos a disponibilidade.

 

Mais informações

Saiba mais sobre este projeto em: https://www.pollinet.pt/arcade

Esta caixa com borboletas encontra-se em exibição no Gabinete de Curiosidades.

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