Um sapato sui generis
Estávamos em finais do século XIX (1880 e 1882), altura em que chegam à Universidade de Coimbra, a pedido de Júlio Henriques, então Diretor do Museu e Jardim Botânico, várias remessas de objetos remetidas por José Alberto Homem da Cunha Corte Real, Secretário-Geral do Governo de Macau e Timor. Com inequívoco interesse pela Botânica destes territórios, Henriques solicita e recebe, para além de sementes e plantas, um conjunto muito alargado e representativo da etnografia de Macau e Timor (578 artefactos listados numa relação igualmente enviada por Corte Real) que passa a integrar o espólio do então Museu de História Natural da Universidade de Coimbra.
Deste conjunto faz parte este exemplar que hoje apresentamos, um sapato de lótus. Com a ajuda de uma faixa, procedia-se à compressão do pé que forçava os ossos dos tarsos, metatarsos e falanges dos pés para a região plantar, provocando deformações ósseas irreversíveis. Desde os primeiros anos de vida, as mulheres que pretendessem ascender socialmente eram submetidas a esta prática, que impedia o normal crescimento dos pés, sendo que, na fase adulta, não deveriam ultrapassar os 8 cm de comprimento.
Esta tortura apenas foi abolida em meados do século XX com a Revolução Chinesa.
Sapato Chi-pin | ANT.M.11